quarta-feira, 11 de julho de 2007

O mar da Vagueira

Em tardes quentes de Verão
Ou noites de lua cheia,
Quando me sento na areia,
Sempre me pareces belo,
Tuas águas são espelho
De um céu azul, estrelado
Que me perco em visões
De vagas altas, marés
E se me banhas os pés
Vivo um mundo de emoções.

E na penumbra das rochas
Ou em teu lindo areal,
Encontram-se os namorados,
Que, em carícias, abraços
E promessas de amor eterno,
Vivem um amor escaldante,
Que o calor dos corpos seus,
Mesmo em noites de Inverno,
São uma dádiva de Deus,
Que mais parece irreal.

E os seus beijos molhados,
Por ondas de amor temperados,
Têm forte sabor a sal.
As altas ondas se espraiam,
Batem forte no rochedo,
Testemunham mil amores
E fazem disso tal segredo
Que as amadas se entregam
Aos amantes, que as não negam,
Por entre tremores e medo.

Mar, se revelares os segredos
Desses amores proibidos,
Que comigo partilhaste
De mil histórias, enredos
E de gestos repetidos,
Não o faças publicamente.
Mar agitado, te acalma!
Quem observa não sente
E o corpo, por vezes, mente
Não diz o que vai na alma.

Guarda, nas tuas entranhas,
As imagens repetidas,
Talvez histórias de vidas,
De que foste testemunha,
Em noites de lua cheia,
Para junto de ti, ó mar
Muitos deles irão voltar,
Que repetir juras de amor,
Mesmo que com outro par,
Não é vergonha nenhuma.

Ó mar, guarda os segredos
Desses amores proibidos
Guarda os dos outros e os meus
Que minhas juras de amor
Foram uma dádiva de Deus.
A. Freitas/07

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O mar

Fui ver o mar,
O mar imenso,
O mar sem ter fim.
E sempre que o vejo
Tenho um desejo
De o atravessar
Em barco veleiro,
Como um marinheiro,
De lés-a-lés,
Mas sinto que em mim
Há um mar revolto,
Um mar agitado
E fico parado
A ouvir marulhar.
Depois me inquieto
Ao vê-lo tão perto
A banhar-me os pés.
E logo lhe grito
Com ar aflito
De respeito e medo:
- Por que te agitas,
Por que te revoltas,
Em voltas e voltas,
De ondas tão soltas
Em vez de estares «quedo»?!
Por que não te acalmas
E ficas mar chão
Brincando na areia?
Mata-a com carícias
E nela te enrola.
Essa ideia tola
De que com teu feitiço,
Sem eu dar por isso,
Me hás-de salpicar
Com tua água fria
De sabor salgado,
Meu mal-humorado,
Não vai passar disso!
E se tu te acalmas,
Ó mar agitado,
Revolto, alteroso
O meu coração
Vai ficar mar chão,
Dócil, amoroso.
E juntos, na praia,
A enrolar na areia
Cantamos baladas
De uma maré-cheia.
A. Freitas

Costa Nova do Prado

Sou aldeia piscatória
Fico entre a ria e o mar
Minha gente, minha história
Aqui vos quero contar.

À minha frente a ria
Nas minhas costas, o mar
Se olho p’ra um, num dia
Logo o outro quero olhar.

Já pensei, terão ciúmes
Por eu não olhar os dois?
Por vezes, oiço os queixumes
Logo se calam, depois.

Do mar oiço o marulhar
Quando se espraia, na areia
A Ria espelha o luar
Em noites de lua cheia.

São dois amores em redor
Que me dão prazer e pão
Não sei qual deles é maior
Dentro do meu coração.

Tinha casas originais
A que chamavam “palheiros”
Redes de pesca, quintais
E os barcos “moliceiros”.

Por poetas, fui cantada
Fui razão de aguarela
E também adulterada
Ultrajaram minha tela.

Apesar disso, sou bela
Sou inspiração de artistas
Retrato em aguarela,
Visitada por turistas.

A minha vida mudou
E com ela, meus valores
Sinto-me bem como estou
Não perdi os meus amores.

Talvez tenham menor beleza
Por causa da poluição
Mas um lugar com certeza
Dentro do meu coração.

Amados de noite e dia
Quero-os sempre separar
De um lado fico com a Ria
Do outro fico com o Mar.

A Freitas

Os segredos da ria

Quando sair da escola,
Largo a minha sacola
E vou a correr ver a ria
Pois estou desconfiado
Que alguém a esvazia,
Levando aquela água
Dali para outro lado.

Mas não percebo a razão
Da atitude do ladrão
Que a volta a devolver!
Quero vê-lo bem de perto,
Ficá-lo a conhecer
E até seu amigo ser,
Tem bom coração, por certo.

Já ouvi certas histórias,
Que guardo em curtas memórias
De uma vida de petiz,
Que a água desaparece
E corre dali para o mar,
Mas, ninguém a vem roubar,
Sempre que isso acontece.

Porém, quero estar certo,
Vou vê-la mesmo de perto
A esvaziar e a encher.
E juro que, qualquer dia,
Depois de sair da escola,
Largo a minha sacola
E fico a olhar a ria.

Dizem que é a foz de um rio,
Que corre dias a fio
Ou então braço de mar,
Que enche com a maré-cheia
E na baixa-mar se esvazia.
Que é esquisita esta ria
Ninguém mo tira da ideia.

Se não achar solução
Para os segredos da ria,
Irei sabê-lo, um dia,
Quando aprender a lição,
Que o meu professor vai dar
Sobre as marés e o mar,
Esse oceano «ladrão»
Que rouba e torna a dar.

A. Freitas

Professores de um tempo

Foi há trinta e um anos que partimos,
Carregados de esperança e ambição,
Ensinámos, aprendemos, descobrimos,
Cumprimos, afinal, nobre missão.

Levámos, no peito, flores de Abril,
Nascidas em jardins de Primavera
E sonhos eram tantos, quase mil
Que tudo nos pareceu doce quimera.

E cada flor de Abril se transformou
Em torrentes de saber e fantasia
Que o tempo parece que não passou.

E cada pétala foi jorrando alegria
Que as crianças livres inundou
De um tempo novo, um novo dia
A. Freitas/07

Um sonho

Ontem, sonhei.
E sabem o quê?
Que era menino,
Menino da escola
E que a sacola
Era toda de ouro,
Tal como um tesouro,
Que guarda segredos,
Histórias e enredos,
Coisas de valor,
Talvez um baú,
De coisas sagradas,
Onde eu e tu
As temos guardadas.

E, quando acordei,
Pus-me a pensar
Neste sonho meu,
De tanto valor,
Que me apeteceu
Contá-lo a todos,
Grandes, pequeninos,
Meninas, meninos,
Num gesto de amor.

Sabem o que eu penso
Deste sonho meu?
Deu-me uma lição
De vida e valor,
Da minha escola,
Das coisas que aprendo
E do que transporto
Na minha sacola.
São jóias, são ouro,
São livros, saber,
São o meu tesouro…

Gostei do meu sonho,
Muito, na verdade,
Porque eu suponho
Que na nossa mente
Deve ele estar presente
Em qualquer idade.

A. Freitas
A Praia da Vagueira

É Verão, fui ver o mar,
Que fica aqui mesmo ao lado,
Que vejo todos os dias,
Mesmo nas manhãs mais frias,
Estou dele enamorado.

Gosto de o ver mar revolto,
Quando ele bate na areia,
Ou então calmo e mar chão,
Que entoa doce canção,
Em noites de lua cheia.

Há dias em que o vejo
Também ele enamorado,
Quando na areia se espraia
E bate nela e desmaia,
Em noites de céu estrelado.

Quis ouvir o marulhar,
Seus murmúrios e canções,
Sentei-me ali, ao seu lado,
E logo fui inundado
Por um turbilhão de emoções.

Era um marulhar diferente,
Mais agreste, sem magia,
Não de alguém enamorado,
Mas por certo revoltado,
Por ter perdido quem queria.

Quais as razões da mudança,
Procurei logo saber
E lancei o meu olhar
Ao areal e ao mar,
Para os dois compreender.

Não vi as artes da pesca,
A lota, nem o pescado,
Até perdi o olhar,
Sem nenhum deles alcançar,
Que pensei ter-me enganado.

Repeti o gesto mil vezes,
Olhei noutra direcção,
A praia, que estava ali,
Só, ao longe, a descobri,
Junto a um novo paredão.

Fiquei triste e chocado
Por não encontrar lugar
Para estender a toalha,
Porque essa gente canalha
Teima em a maltratar.

O mar já não se espraia,
Já não se enrola na areia,
Já não canta mil canções,
Não é razão de emoções,
Sua voz é rouca e feia.

E a areia, sua amada,
Afogou-se em agonia,
Sentiu-se ferida e traída
E diz mal da sua vida,
Em cada hora do dia.

Quero vê-los enamorados,
Talvez loucos de paixão
E para ver estas imagens,
Vou de armas e bagagens,
Para a praia do Areão.

A. Freitas/07